Que crenças vêm quando a idade avança?
Quando fiz cinquenta anos tomei consciência do quanto as pessoas tinham crenças negativas associadas à idade e ao envelhecimento.
Ao mesmo tempo que me ligavam para dar os parabéns por mais uma volta do sol, inundavam-me de frases muito “encorajadoras” como “agora aos 50 é que vais ver como é…”, “depois dos cinquenta vem tudo…” (e coisas do género). Na realidade, eu nunca encararei essas crenças como verdades absolutas e sempre vivi acima delas.
Apesar de concordar que os anos deixam as suas marcas e mazelas, acredito que elas são mais provocadas por toda a falta de cuidado que temos ao longo da vida com o corpo, com a mente e com a saúde em geral do que pelo simples facto de ficarmos mais velhos. Talvez por isso me custe ouvir pessoas sem muita idade a caminhar pela vida como se rumassem para um abismo sem volta. Não, não deve ver as coisas assim.
Ouço a manifestação de algumas dessas crenças através de frases como: "Já não tenho idade para ....", "Na minha idade já fiz o que tinha a fazer"; "os filhos estão arrumados, para mim já qualquer coisa serve"; "a partir dos cinquenta é sempre a descer"; "já estou velha já não vale a pena"; "não fiz em nova, agora é que ia fazer?"; "é uma tristeza, já não presto para nada", "qualquer dia vou para um lar e fico lá, à espera que a morte venha", "a velhice é muito triste", "ninguém quer estar com os velhos", "os velhos só dão trabalho" e muitas outras.
Todas estas formas de pensar revelam crenças negativas sobre o envelhecimento e, à medida que a idade avança, elas ensombram mais e mais os pensamentos ("já estou quase com 50…", "já passei os 50, agora é que são elas…,"já passei os 60, e agora…?”). Se este é o seu caso, comece por se observar e perceber se também pensa assim.
Nesse caso, repare quão mais saudável seria para si cultivar pensamentos como "agora os filhos estão criados e já tenho mais tempo para mim"; "agora tenho mais tempo, é a minha vez de fazer coisas que sempre quis fazer e não fiz antes"; "envelhecer é acumular experiência"; "sinto-me serena há coisas que já deixaram de me incomodar"; "agora sou livre para me dedicar ao que sempre quis fazer" , "o corpo mudou um pouco mas agora sou muito mais eu mesma e isso vale tudo", "valorizo cada vez mais o tempo que estou por aqui", “foi bom ter filhos mas ter netos é ainda melhor”.
Estas são manifestações de quem se sente confortável em ser quem é com a idade que tem. Neste grupo estão as pessoas com a consciência de que a idade traz alterações (sim, traz!), mas que muitas dessas alterações se transformam em vantagens que podem ser libertadoras e enriquecedoras. Depende de si escolher a forma de pensar que a/o nutre mais e mantém o seu espírito com mais serenidade.
Na idade madura existe todo um potencial de sabedoria adquirida que pode ser colocado ao próprio serviço, beneficiando também, de forma de forma serena e harmoniosa (e por vezes inesquecível) aqueles que são mais próximos (quem não recorda a avó e as suas palavras sábias, firmes, ternas e reconfortantes?).
Não se esqueça que não há como não envelhecer (a alternativa é morrer!). Por isso, ainda que seja muito bonito ter uma pele lisa e os contornos de um corpo bem firme e fantástico, há coisas que se tornam uma mulher muito mais fascinante do que a simples beleza física.
Há que aceitar as alterações físicas que a idade traz, fazer por preservar a saúde e o bom estado físico. Mas há também que descobrir a beleza que vem com idade madura.
Vamos aprender formas de nos cuidarmos e amarmos tal como somos, sendo gratos todos os anos que passaram por nós.
"A juventude é época de se estudar a sabedoria. A velhice é a época de a praticar" - J.J. Rousseau